O médico homeopata Sergio Furuta, pesquisador da Unifesp, testou a homeopatia em crianças na fila de espera para a cirurgia de remoção das amígdalas no Hospital São Paulo. Ele dividiu as 40 crianças em dois grupos. Metade tomou placebo, a outra metade, homeopatia. Em quatro meses, cerca de 70% das crianças tratadas com homeopatia saíram da fila, porque pararam com as amigdalites de repetição. No SUS de Jundiaí, no interior de São Paulo, a homeopatia foi comparada ao Prozac no tratamento da depressão. Os pacientes que receberam compostos homeopáticos apresentaram melhora semelhante aos tratados com o antidepressivo em oito semanas, sem os temidos efeitos colaterais – como perda de libido, ganho de peso ou insônia. O mais interessante foi que cada paciente recebeu um remédio homeopático diferente. É que, ao prescrever a medicação, o homeopata leva em conta sintomas que a medicina convencional costuma ignorar e os inclui na formulação do composto. “A depressão faz parte de um conjunto alterado de sintomas. Enxaqueca, fadiga, dor e outros sinais acabam influenciando no quadro depressivo”, diz o médico homeopata Ubiratan Adler, que conduziu o estudo.

A maior atenção do médico ao paciente é a principal diferença da homeopatia para o modelo médico convencional e suas consultas vapt-vupt. Mas se torna também um problema na hora de desenvolver estudos controlados. “A homeopatia é muito mais eficaz quando é feita de modo individual porque seu foco é o doente, não a doença. Mas os modelos de pesquisa costumam dar um mesmo composto homeopático a um grupo de voluntários indiscriminadamente. Assim, fica bem mais difícil provar a sua eficácia”, diz o pesquisador Marcus Teixeira, da USP.

As longas consultas são um ponto a favor da prática e, em alguns casos, tão ou mais poderosas do que as gotinhas ultradiluídas. Em 2011, homeopatas do Reino Unido concluíram que as consultas, e não os remédios, estavam associados à melhora de pacientes com artrite. O achado faz sentido: quem não se sente melhor depois de ser interrogado e ouvido horas a fio por um médico? A novidade é que esse conhecido efeito placebo das consultas não é trivial. “Os rituais terapêuticos ativam no cérebro as mesmas moléculas acionadas pela maioria das drogas”, disse o cientista Fabrizio Benedetti, que investiga a neurobiologia do efeito placebo, à revista da Universidade Harvard. Logo, a homeopatia também potencializa o poder da crença. Há mais de 200 anos, o criador da homeopatia considerava as idiossincrasias de cada paciente fatores de primeira ordem na prescrição de um tratamento.

Seja como for, é cada vez mais comum ter bons resultados ao se associar a homeopatia com a alopatia. “A alopatia é rápida nos casos agudos, e a homeopatia é especialmente útil nos casos crônicos, em que a doença sempre volta após o tratamento alopático”, diz Teixeira. Somados, os benefícios das duas são maiores que o de cada uma sozinha.

Fonte: Parte do artigo de autoria de Silvia Lisboa, 11 de outubro de 2017.

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